Não
nos enganemos: tomaram o Brasil. Ideias elitistas são balbuciadas por bocas
irresponsáveis e nem nos damos conta. Por quantas vezes já não nos deparamos
com alguém que diz “bandido bom é bandido morto”, “se já vota, já pode ser
preso”, “índio de verdade não existe mais”, “pena de morte é a solução”, “pobreza
não é desculpa”? Por quantas vezes calaram nossas bocas para nos dizer que a
utopia é algo que não se deve seguir? Meu medo é que deixem o Brasil nas mãos
dessas pessoas.
Enquanto
as classes minoritárias são esquecidas, grandes barões são alimentados por
cofres públicos. Fala-se da educação brasileira e da desvalorização do
professor. Fala-se da violência e da bala perdida que corta gargantas. Fala-se
dos desmoronamentos de terra em áreas pobres. Fala-se do caos público e do
quanto o Brasil é um péssimo lugar para viver. Mas pergunto: alguém já lhe
falou sobre soluções? Em que muro se esconde a moral das pessoas que acreditam
que a violência, usada para reprimir a violência, nos serve para alguma coisa?
Ações
policiais são cada vez mais discriminatórias. Jovens são marginalizados. A valorização
do intelecto dá lugar a uma educação voltada, único-exclusivamente, para o
preenchimento de vagas no mercado de trabalho. Os negros continuam sendo
maioria nas prisões e minoria nas universidades. A orientação sexual é reprimida. Religiosos fundamentalistas
espalham ódio. E nós? Há quem acredite que tudo está bem. Que tudo não passa de
ideias de quem não tem o que fazer. Há
quem durma. Há quem chore.
Os
debates são travados por pessoas que desconhecem a realidade. Opiniões mal
formadas são jogadas no ventilador da ignorância e, de tanto serem repetidas,
tornam-se verdade aos ouvidos daqueles que só ouvem. O problema é tentar tratar
as falhas em sua superfície e esquecer o quão profunda uma ferida pode chegar a
ser. Enquanto os policiais erguem seus cassetetes, cientistas sociais são tidos
como loucos. O certo é usar o braço e não a mente. Eu tenho medo dessas ideias.
O
pai que diz para o filho que homem não chora é o mesmo pai que não chorou
quando criança. A mesma mãe que diz que a filha precisa lavar a louça por ser mulher,
é a mãe que acreditou nos discursos machistas de uma sociedade doente. Como eu
posso acreditar em conceitos velhos de família, se esses conceitos discriminam
e ferem? Como confiar em uma sociedade individualista cujos preceitos de
coletividade são perdidos em todas as ruas? Como posso parar para ouvir e
acreditar em piadas de humor negro, enquanto, todos os dias, mutilam minha
gente que nem tem voz para gritar?
E
há quem ache que está tudo bem!? Está tudo bem. Esta afirmativa é, talvez, a
pior piada que já ouvi. E é uma piada tão sem graça que não consigo entender
por que é tão repetida. Levaram o Brasil para longe e pisam em sua bandeira
quando abrem a boca para falar. És, Brasil, gigante pela própria natureza. Mas
não és capaz de espalhar sua grandeza dentre seus filhos. Dentre outras mil, és
tu, Brasil, quem esquece de seus filhos. Verás, Brasil, que um filho teu não
foge à luta. Mas verás, em conjunto, de mãos dadas, quais dos teus filhos não
nasceram para lutar.
Clarissa Damasceno Melo.
17 anos, estudante de Letras na UESC