Por Lúcia Facco em Frente e Verso
A difícil arte da superação
A família é, sem dúvida, o principal grupo de apoio para @s jovens pertencentes aos grupos considerados minorias. Negros, judeus, índios, portadores de necessidades especiais etc encontram em suas casas proteção e segurança. A família normalmente reforça a auto-estima de seus filhos, seja através da identificação de traços culturais, seja através de amor e aceitação.
Logicamente há exceções. Certas famílias acabam reforçando a inferiorização dos filhos, induzindo-os a se adequarem aos padrões sociais dominantes. Como exemplo, posso citar mães que levam filhas pequenas negras ao salão para alisar os cabelos e chamam os cabelos das meninas (e seus próprios) de “cabelo ruim”.
Contudo, por mais que esse tipo de atitude seja prejudicial, para @s jovens homossexuais a realidade costuma ser pior. Em muitos casos, a própria família é a primeira a discriminá-l@s. Muit@s jovens sofrem, dentro de suas casas, as mais diversas formas de violência física e/ou psicológica. Muitas famílias ainda expulsam @s jovens de casa e, em casos extremos, podem chegar a matá-l@s.
Eu conheci, recentemente, um rapaz que foi expulso de casa aos 15 anos, ao ter sua homossexualidade descoberta pela mãe, e teve que se prostituir para sobreviver. Felizmente ele encontrou uma ONG que o ajudou e hoje trabalha, estuda e vive com dignidade.
A rejeição por parte da família tem uma influência profunda e indelével sobre a maneira pela qual @ jovem vivenciará a própria homossexualidade. Esse conhecido teve a sorte de encontrar quem o apoiasse, mas isso não acontece com tod@s os jovens. Grande parte del@s carregará marcas que dificultarão a sua vida afetivo-amorosa.
Lidar com a homossexualidade é sempre mais difícil para @s adolescentes, justamente pela grande carga de preconceito sobre orientações sexuais consideradas “anormais” e esse período da vida é o da experimentação da sexualidade, que estruturará a sua identidade.
Nessa fase, cada indivíduo escolherá entre assumir a divisão binária considerada como “normal” pela sociedade (homossexual X heterossexual) ou assumirá uma posição diferenciada, que possui uma enormidade de gradações entre uma coisa e outra.
Claro está que a sociedade faz todos os esforços para direcionar @s jovens para a posição considerada como correta: a heterossexual. Para isso, conta com a ajuda da família, da escola, dos meios de comunicação, da mídia, que, ao reforçarem o modelo heterossexual de comportamento, inviabilizam a outra escolha.
Se formos buscar as origens culturais da homofobia, veremos que ela se baseia no controle da produção social. Casais homossexuais não geram filhos, logo não geram mão-de-obra futura. Baseia-se, também, na dominação masculina sobre a mulher. Os homens são a parte “ativa” da relação e as mulheres a “passiva”. Ao homem é dado o direito ao prazer, à mulher apenas o direito de ter filhos e de ficar calada. Homens que “dão”, ao invés de “comer” e mulheres que “comem” ao invés de “dar” estão transgredindo a ordem impingida como “natural”, portanto, devem ser combatidos sem cessar.
Até hoje, todos os modelos já propostos de “educação sexual” para as escolas se preocuparam em formar @s jovens para a vida em coletividade, desconsiderando os interesses individuais e a maneira como cada um se sente em relação à sua libido. Isso fica bem claro na maneira pela qual a maioria dos educadores encara @s jovens homossexuais.
Discute-se educação sexual apenas por um viés considerado “normal”. Se, na escola, um/a jovem ousa mostrar desejos diferentes dos esperados, certamente provocará uma sensação de desconforto e estranheza tanto em colegas quanto em professores. As reações variam muito. El@s podem ser ignorad@s, condenad@s à invisibilidade, ou podem sofrer violência verbal e até física. De uma forma ou de outra, são mantid@s em uma condição de marginalidade.
Isso faz com que a maioria prefira manter-se na obscuridade, não declarando abertamente sua homossexualidade.
Uma das táticas de desvalorização d@s jovens homossexuais é o reforço dos comportamentos de gênero. Quem não corresponder a esses comportamentos não será reconhecido como homem ou mulher “de verdade”.
É preciso que haja a compreensão de que jovens gays e lésbicas são homens e mulheres perfeitamente “normais”, apesar de não agirem de acordo com os comportamentos de gênero considerados como “masculinos” e “femininos”, e que merecem respeito como qualquer outro jovem.
A sociedade não pode fingir que não percebe a situação de conflito e sofrimento enfrentada por jovens que possuem sexualidades alternativas.
Nos tempos atuais de mídia, globalização e Internet, não é mais possível negar o problema. Não se pode admitir que os educadores não se envolvam na questão. É importante que todos compreendam que a sexualidade é uma construção social, assim como suas práticas e desejos. Sendo assim, deve-se perceber que se faz necessário um questionamento das idéias tidas como majoritárias e das práticas idealizadas pela sociedade para todos os grupos sociais. A partir dessa compreensão, as pessoas começarão a rever conceitos que levam à intolerância, violência, desrespeito e falta de solidariedade. Essa mudança na mentalidade é urgente e necessária, pois @s jovens, devido à sua imaturidade, são vítimas mais frágeis e incapazes de enfrentar a discriminação que @s violenta, inclusive nos locais onde deveriam se sentir apoiad@s e protegid@s: a casa e a escola.
http://www.paradalesbica.com/
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