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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Meio século de um ilústre desconhecido




Nota Pública Pessoal (carta aberta)


Neste dia oito de agosto de dois mil e nove o senhor Mário Araujo do Santos, conhecido como Mário do Jornal completa um pouco mais de meio século. Homem negro, vindo da Zona Rural, de um vilarejo onde jamais se imaginaria um espaço físico mapeado, muito menos a primeira localidade de Cruz das Almas a ter casas populares num Governo diferente do que Mário do Jornal durante anos seguiu.

Mário, homem que lutou e luta pela dignidade com trabalho e inclusão. Consegue colocar de frente inimigos e amigos numa envolvência impressionante. Espancado hoje pelos ex correligionários, ele continua acordando cedo sempre para manter o padrão de vida que alcançou com muita luta. De que lado esteve, de que lado está isso depende do ponto de vista. Mário continua no espaço físico que deve ser ocupado pelos que ousam e acreditam que não são menores ou piores. Que não internaliza nem derrota nem vitórias, apenas vive um dia de cada vez.

Pai de família, homem, político, professor, jornalista, radialista, ele consegue ser plural quando numa nova fase, ao perceber que as pessoas são iguais e que não foi só discurso, ele coloca na capa de um jornal conservador numa cidade não menos um prêmio que parece sem significado financeiro (já que o espaço foi gratuito, posso comprovar) mas de uma relevância de garantia de cidadania, políticas públicas, e direitos humanos para LGBTs. Sendo heterossexual e sendo legal (leia-se legal juridicamente) já que não foi opção seu nascimento, nem sua raça nem gênero.

A cidade que ainda não amadureceu para perceber que quem apoia lésbicas e gays, não apoia preconceitos ou homofobia, e sim a equidade de gênero sonhada. A cidade que disse e comenta que o Jornal do Planalto virou jornal gay. A cidade que ainda não entendeu após a multidão que foi ás ruas dizer não a preconceitos, não a homofobia. Não a segregação. Não quer mais continuar nos velhos moldes ditatoriais e obsoletos.


Mário do Jornal desde o primeiro dia do meu contato com ele, e olhe que faz muitos anos, sempre, mesmo estando em lados bem definidos politicamente, foi muito simpático e acolhedor, um dos poucos quando aqui cheguei. Anos depois desse primeiro encontro, o mesmo cara, por respeito e admiração me acolhe, me emprega, emprega minha esposa, emprega uma travesti, sem perguntar capacitação ou currículo.

Seguindo o coração que acerta sempre. Débora Valadares, hoje em Aracaju (leia-se: em terra natal) foi resgatada das dores do desemprego por um homem que muitas vezes é mal interpretado, pela capacidade de inclusão e diversidade. Pela coragem de dizer o que pensa e arcar com isso. Pela manutenção da luta, que ele sabe que está apenas começando para sua prole.

Quanto a mim, sei apenas que sou respeitada e ouvida (bem menos do que gostaria, pelo excesso de atividades dele e minha) pelo cidadão que saiu de entregador a dono de jornal, político, secretário de cultura. Que o tenho como modelo de luta, assim como tenho o “MEU PRESIDENTE DA REPÚBLICA” assim como tenho nossa próxima presidente.

Que alguns homens e mulheres se espelhem na capacidade de pensar adiante. Que percebam as mudanças do mundo, fazendo de fato inversão de prioridades, como já acontece nesse século XXI, que Gilberto Gil tanto temia em seu expresso 2222, que partiu direto de Bonsucesso para depois do ano dois mil. Em dois mil e quanto teremos o que almejamos,? Estão dentro de cada um de nós, essas buscas, a coletividade responde ao chamado das inquietações humanas.

Que nessa mesma data a resistência do Jornal do Planalto faz trinta e oito anos, atuando com gente que faz, com gente que aposta, com gente que sabe que o que tem valor, são pessoas e não cédulas. Que idéias sempre serão bem vindas e que os gênios são mantidos em cativeiro justamente porque se trabalham em bases diferentes enquanto uns pensam outros executam, enquanto uns atrapalham, outros trabalham.

O jornal do Planalto, sem medo do sucesso que permeia a comunicação mundial hoje, amplia socialmente a camada de leitores fornecendo matérias verídicas e comprometidas com a realidade dos fatos, dando o tom dos que dizem e dos que contrapõem. Sabemos ser um sonho ainda acalentado por uma mídia livre, coesa, séria e singular. Entendemos que quando muito se diz, erra-se muito. Mas sabemos que a premissa da comunicação ainda é dizer com responsabilidade, é atuar verificando que toda moeda tem dois lados e que desconhecemos o que não vimos porque não temos um vídeo tape para ficar comprovando tudo e em todo momento, que nossa personalidade seja colocada em dúvida. Apenas porque somos, estamos ou fomos amigos, ou pelo menos parece que seja de alguém que após algumas escolhas, toma-se lados opostos mas não de inimigos. Porque se voltarmos ao tempo da esgrima. Até os inimigos antes da luta se cumprimentam.

A inteligência emocional buscada, é maior e mais bem aceita que a inteligência acadêmica e essa, só tem que se conhece, quem se auto afirma. O novo combustível para o mundo, é essa capacidade de analisar cada passo, antevendo a harmonia cósmica.

Isso não significa articulismo ou qualquer outro “ISMO” do sufixo doença, tem significado peculiar para cada cidadão e cidadã que seja capaz de mudar de idéia por ter idéias para mudar, de não permanecer no marasmo nem se vitimar ou se auto punir.

Da evolução de cada ser dentro de si e fora de si. De não resistir ao novo, interpretando geracional e confirmando que somos passantes dessa vida que temos o que viveu após ela para os que acreditam em espiritismo, candomblé, catolicismo, cristianismo, budaismo ou ateísmo.

Seja qual escolha for algumas pessoas nos influenciam diretamente, outras menos. Mas como bem disse Simone de Beauvoir. “O ser humano é dotado de fala e sempre se influenciará por elas” Perceber que tipo de influência recebemos e colocamos em prática é justamente a que faz de nós o que podemos ser, e não o que somos.

Saud@ções Mário do Jornal um agradecimento infinito pela passagem do seu aniversário.

LYZ
Repórter do Jornal do Planalto
Presidente do Grupo LGBT OMNI
Cruz das Almas.Bahia

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