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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ratzinger, e o nazismo.


Ratzinger, o biólogo
Por Márcio Retamero* 14/1/2010 - 19:43


Em 1933, do alto do morro do Corcovado, aos pés da estátua do Redentor, o então Cardeal Eugenio Pacelli, Secretário de Estado do Vaticano, abençoou os católicos cariocas com os braços abertos, tentando, talvez, imitar a estátua. Tal gesto se tornaria sua “marca”, seis anos depois, quando Pacelli sucedeu o Papa Pio XI, tomando o nome de Pio XII.

Pacelli, uma espécie de “primeiro ministro” do Vaticano, exerceu seu mandato numa época sombria para o mundo. Foi ele que, em nome do Papa Pio XI negociou a Concordata do Reich com Adolf Hitler. Tal Concordata sepultou não somente o então poderoso Partido do Centro (católico), o único capaz de fazer frente à escalada do poder de Hitler, mas também toda e qualquer ação política da Igreja Católica na Alemanha na década de 30.

O historiador e vaticanista John Cornwell é o autor do livro mais esclarecedor sobre a diplomacia católica deste período. Foi ele que popularizou o “apelido” de Eugenio Pacelli – “O Papa de Hitler”, título de sua obra. Cornwell nos informa detalhadamente a atuação de Pacelli enquanto Secretário do Estado do Vaticano e suas implicações com o regime nazista. Abundante em provas, a obra esclarece o que por muito tempo ficou às sombras e no não-dito, melhor, no apenas sussurrado.

É inegável que à margem da “política oficial” do Vaticano, a atuação de muitos católicos leigos, sacerdotes e monges, inclusive, salvaram milhares de vidas judias da sede de sangue hebreu do Carrasco Alemão. Sabemos que mosteiros, paróquias, conventos e capelas foram usados como “cidades refúgio” pelos judeus. Cornwell não nega os fatos, mas esclarece a postura da cúpula do Vaticano.

Em 1927, nascia na região da Baviera, Alemanha, Joseph Ratzinger. Filho de católicos devotos, certamente recebeu desde a infância a catequese católica. Por conta da atuação daquele que seria Papa décadas antes dele, o acima referido Pacelli/Pio XII, Ratzinger não pode, quando um jovenzinho, atuar na Juventude Católica Alemã, pois essa, considerada como “associação política” pelo nazismo, foi encampada pelo regime. Assim sendo, em 1941, aos 16 anos, o jovem Ratzinger, como a maioria esmagadora dos jovens alemães de seu tempo, pertenceu à “Juventude Hitlerista”; não era opção. No mesmo ano, um primo seu, com síndrome de Down, foi assassinado pelos médicos “eugenistas” nazistas.

Dois anos depois, em 1943, o jovem Ratzinger, aos 16 anos, mais uma vez obrigado, foi recrutado pelo Exército Alemão, servindo ao Reich na Segunda Grande Guerra. Somente com o fim da guerra, em 1945, Ratzinger se vê livre dos tentáculos do regime nazista. Por que tais notas biográficas do Papa Bento XVI? Porque se entende melhor o Papa Bento, quando nos lembramos de sua trajetória de vida e assim é com todo ser humano, pois nenhum de nós passamos ao largo da História do nosso tempo.

John Cornwell, o historiador citado parágrafos acima, publicou em 2004 outra obra muito esclarecedora sobre a Igreja Católica: “A Face Oculta do Pontificado de João Paulo II”, Ed. Imago. No livro, também recheado de provas contundentes, João Paulo II sai bem diferente da imagem tão cirurgicamente construída por ele e pela mídia católica como um verdadeiro santo. O livro também nos apresenta um breve, todavia, contundente perfil do Cardeal Ratzinger, Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé durante o pontificado de João Paulo II. Ao lado do Cardeal Sodano, Ratzinger era o homem mais poderoso do Vaticano.

Cornwell nos revela em detalhes como o Cardeal Ratzinger matou o trabalho pastoral da Irmã Jeanine Gramick e Padre Nugent junto aos homossexuais na cidade de Baltimore, nos EUA. Nas palavras de Ratzinger, o trabalho pastoral de Nugent e Gramick estava eivado de “ambiguidades e erros; trazendo confusão entre os católicos e prejudicando a comunidade da Igreja”. Cornwell nos esclarece que o futuro Bento XVI chegou até eles através de um “sistema de delação”, incentivado por ele mesmo enquanto Prefeito da CDF nos casos de assistência pastoral a católicos homossexuais.

Agora Papa, Bento XVI continua, do alto do seu trono, tendo a mitra papal sobre a cabeça e o cajado de Sumo Pontífice na mão, trabalhando contra homossexuais, como demonstram suas equivocadas declarações quando o assunto é a homossexualidade. Na África, em visita pastoral, chegou a dizer que a camisinha não protegia ninguém da contaminação pelo vírus HIV.

Desta vez, “Bento XVI, o biólogo” declarou que “o casamento gay é um ataque à diferença entre homens e mulheres”. Assim que li a equivocada declaração, lembrei-me da adolescência e juventude de Ratzinger junto ao nazismo. Lembrei-me da eugenia e da experiência pessoal do atual Papa que perdeu seu primo com síndrome de Down porque era também considerado “anômalo”, “antinatural”, “defeituoso”.

Sabemos o quanto somos marcados nas fases da adolescência e juventude pelas experiências existenciais que temos. Algumas ideias, verdadeiras toxinas, drogas poderosas, permanecem em nós a vida inteira. Certamente que o Papa Bento XVI quando adolescente e jovem teve que ler e estudar todas aquelas ideias nazistas. Teve que professá-las e mais que isso, viveu, viu, ouviu... Nenhum ser humano passa incólume por uma experiência dessas!

Contudo, por ser Bento XVI quem ele é, ou seja, o “Vigário de Cristo na Terra”; por ter estudado anos e anos e chegar a ser um influente teólogo católico, até mesmo considerado progressista na década de 60; por ser, enfim, um “cristão”, o que me causa pavor, é saber que este homem, aos 82 anos de idade, depois de tantas horas lendo a Bíblia Sagrada, celebrando missas, aconselhando, orando, visitando pessoas necessitadas de conforto espiritual; quando abre a boca para falar sobre a homossexualidade e sobre seres humanos homossexuais, fala como um biólogo do regime político sob o qual ele viveu, nas primeiras décadas do século passado, na Alemanha!

Bento XVI precisa desintoxicar-se!

* Márcio Retamero, 35 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói, RJ. É pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro - uma Igreja Protestante Reformada e Inclusiva -, desde o ano de 2006. É, também, militante pela inclusão LGBT na Igreja Cristã e pelos Direitos Humanos. Conferencista sobre Teologia, Reforma Protestante, Inquisição, Igreja Inclusiva e Homofobia Cristã. Seu e-mail é: revretamero@betelrj.com.


Fonte: www.acapa.com.br



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