Entende-se por eugenia: teoria/corrente de pensamento criada no fim do século XVII e que ganhou a Europa durante o século XVIII e atingiu a América do Norte e do Sul no fim do século XIX e começo do XX. A sua base teórica parte do princípio de sujeitos “selecionados”, com “aptidão” para certas práticas na sociedade, principalmente no que diz respeito à reprodução.  Os eugenistas, que em sua maioria eram constituídos por profissionais da área da medicina, mas também contava com pessoas do meio jurídico, que se utilizavam dos argumentos eugenistas para prender/internar pessoas que, segundo a classificação proposta pela teoria eugenia, eram “anormais”, “distúrbios sociais”. A teoria da eugenia ganhou seguidores pelo mundo inteiro, o seu braço mais radical foi à eugenia nazista, que acreditava na possibilidade de se criar uma “raça pura”. Por fim, a base geral da teoria eugenista é que se pode detectar, a partir de traços biológicos, dados “ruins” e “bons” nos sujeitos e a partir daí intervir no corpo para “melhorar” a sociedade. Digamos que a eugenia é a raiz da biopolítica e segue forte até hoje, mas é claro, com outros atores e contornos.
Entende-se por jornalismo: a arte de reportar a partir da linguagem escrita e com técnicas de redação e edição fatos do cotidiano aos sujeitos. Mas, o jornalismo não é feito apenas de reportagens, mas também de artigos, crônicas e análises sobre determinados fatos que tenham suscitado comoção popular. Posteriormente somou-se o telejornalismo, feito de imagens, closes, lágrimas e muita edição. Hoje contamos com o jornalismo na esfera virtual, que se articula a partir de blogs e portais, independentes ou não. A grande característica do jornalismo virtual é a sua linguagem híbrida, que soma todas as outras citadas acima e também permite a participação do leitor em tempo real, ressignificando profundamente a relação Emissor X Receptor.
E o que tem a ver a teoria eugenista com o jornalismo? Ora, tudo!
Desde que a Parada do Orgulho LGBT da cidade de São Paulo atingiu o número de 1,5 milhões de pessoas já não foi mais possível à imprensa como um todo ignorar tal pauta, principalmente quando se detectou o fator econômico em torno deste ato público. A parada paulistana influenciou grupos e outras paradas ao redor do Brasil, o tema começou a ganhar definitivamente a agenda legislativa e em 2003, o governo Lula lançou o programa Brasil Sem Homofobia e posteriormente o ex-presidente abriu a I Conferência Nacional LGBT. Fato inédito no país e no mundo.
Com isso, os atores pró – agendas LGBT se fortaleceram e ganharam espaço e voz. Obviamente que com este avanço o outro lado também se fortaleceria e assim foi. Fiquemos com a bancada à direita composta por religiosos fundamentalistas e parlamentares oriundos do universo militar. Desde 2005 que a principal agenda deste setor é emperrar qualquer bandeira progressista que envolva as bichas, as mulheres, os negros, a terra e as comunicações. Mas, se assim como o movimento social passa a ganhar apoio de colunistas e jornalistas, com o lado de lá não vai ser diferente. “Novas” vozes editoriais vão se insurgir contra aquilo que vai ser chamado de “privilégio da minoria”. E os argumentos destes “jornalistas” e também dos parlamentares será todo calcado na teoria eugenista.
Os parlamentares fundamentalistas da extrema direita serão responsáveis pelos ataques mais pesados. Vão comparar os sujeitos sexodiversos com necrófilos, que tem problemas mentais, que são promíscuos e com propensão ao uso de drogas Ilícitas. Os jornalistas vão se utilizar de um texto mais soft, quase beirando o ridículo, porém, a mensagem embutida em tais artigos é tão ou mais perigosa que a atuação dos parlamentares conservadores à direita. Com ironias e brincadeiras com cabras, ou  a dizer que a comunidade gay não existe e que também não há coesão no grupo social das bichas, estes articulistas vão dizer que a Constituição já garante tudo às bichas e que o movimento social se aproveita da boa fé para conseguir empregos e regalias.
O grande perigo destes textos “softs” é que pode convencer muita gente de que realmente o mundo hoje está “cor-de-rosa” para as bichas, que elas são paranoicas e que sim, estão em busca de privilégios. É por conta disto que estes textos devem ser levados muito a sério e sempre contestados. Estes autores não se limitam a criticar as bichas, são contra as cotas raciais, contra a inclusão de pobres na universidade e adeptos do lema de que quem tem capacidade consegue chegar lá. Ora, este era o lema principal dos eugenistas de outros séculos: naturalmente os sujeitos nascem com dons, são selecionados por sua natureza biológica…
Portanto, hoje a teoria eugenista além de contar com o apoio dos aparelhos estatais, econômicos, mercadológicos, tem o seu grande trunfo ao contar com “célebres” articulistas da imprensa tradicional a propagar a ideia dos “selecionados” pela natureza e dos “desprezados/marginalizados” pela mesma.

Contribuição de Amanda Cunha