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domingo, 11 de julho de 2010

O caso 'Eliza Samúdio' em nós mulheres "VIVAS"

Vejam o cordel de Salete Maria, doutoranda do PPGNEIM (Programa de Pós -Graduação do NEIM).


*O CASO 'ELIZA SAMÚDIO'*

*E O MACHISMO TOTAL*


O caso Eliza Samudio

Que tem chocado o Brasil

Emerge como prelúdio

De um grande desafio:

*Exortar nossa Justiça*

*Pra deixar de ser omissa*

*Ante o machismo tão vil!*


Trata-se de um momento

De grande reflexão

Pois não basta só lamento

Ou alguma oração

*É hora de provocar*

*Propondo um outro olhar*

*Sobre processo e ação*


Saiu na televisão

Rádio, internet e jornal

Notícia em primeira mão

Toda manchete é igual:

Ex-amante de goleiro

(Aquele cheio de dinheiro!)

Sumiu sem deixar sinal


Muita especulação

- discurso de autoridade-

Uns dizem que é armação

Outros dizem que é verdade

Polícia e delegacia

Justiça e promotoria:

Fogueira de vaidades!


Mei-mundo de advogados

Investigação global

Cada um no seu quadrado

Falando em todo canal

*Subjacente a tudo*

*Um peixe muito graúdo:*

*Androcentrismo total!*


A mídia fala em Bruno

Eliza e gravidez

Flamengo, orgia e fumo

-esta é a bola da vez!-

Tem muito 'especialista'

Em busca de alguma pista

Pra ser o herói do mês


*E a história se repetindo*

*Mudando apenas o nome*

*Outra mulher sucumbindo*

*Sob ameaça dum homem*

*Uma vida abreviada*

*Cuja morte anunciada*

*A estatística consome*


Assim é a violência

Lançada sobre a mulher

Ela pede providência

E cara faz o que quer

Mas a Justiça, que é lerda,

Machista, 'fazendo merda'

Vem com papo de mané


E oito meses depois

Da 'denúncia' inicial

Que é o feijão com arroz

Do distinto tribunal

Nadica de nada existe

Mas autoridade insiste

Que isto, sim, é normal:


“A culpa é do Instituto

Que não mandou o exame”

- isto soa como insulto

e daqueles mais infame-

Não era caso de urgência?

-tenha santa paciência!-

Para que serve um ditame?


A moça buscou amparo

Na Justiça do país

Agiu correto, é claro

E esperou do juiz

O tal reconhecimento

Sobre o pai do seu rebento

Tendo a vida por um triz


Também fez comunicado

Ao campo policial

Dizendo que o namorado

Praticou crimes e tal

*Buscou as vias legais*

*Enfrentou feras reais*

*Terá sido este o seu mal?*


Mesmo com a delegacia

Dita especializada

E com toda a apologia

De uma Lei avançada

*Faltou ter a ruptura*

*Com aquela velha cultura*

*De que a mulher é culpada*


E o cumprimento legal

No caso, muito importante

Seria mais um arsenal

Para enfrentar o gigante

*Mudar a mentalidade*

*De nossas autoridades*

*É fator preponderante*


E para que isto ocorra

Entre outra alternativa

Antes que mais uma morra

E o caso fique à deriva

*É preciso compreender*

*Que Justiça é pra fazer*

*Enquanto a mulher tá viva!*


Sei que nada justifica

Que haja tanta demora

E enquanto o caso complica

A vítima 'já foi embora'

*Sem medida protetiva!*

*Sequer prisão preventiva!*

*Quanto inoperância aflora!*


Se o exame era necessário

À elucidação do crime

O Estado-perdulá rio

Neste campo fez regime

Ficando no empurra empurra

No velho: ''mulher é burra,

e joga no outro time”


Todo crime tem problemas

De toda diversidade

Assim como há esquemas

Também há dificuldades

Mas pra mim é evidente

Que o machismo presente

Premia a impunidade


Machismo compartilhado

Por gente de toda cor

Do goleiro ao empregado

Do primo ao executor

Autoridades também

Implicitamente têm

Um machismo inspirador


Cada 'doutor' se expressa

Centrado no garanhão

É o mote da conversa:

Fama, grana e traição

Ao se referir a ela

Falam da menina bela

Que fez filme de tesão


Falta a compreensão

Da questão relacional

Gênero, classe, profissão

Cor e status social

O processo é narrativa

Que emerge da saliva

Falocêntrica- legal


E ainda que alguns digam

“Oh, Eliza, coitadinha”

E suas doutrinas sigam

Desvendando pegadinhas

*A escola dogmática*

*Do direito-matemá tica*

*Perpetua ladainhas*


*Processo judicial*

*Só serve para punir?*

*Havia tanto sinal...*

*Não dava pra prevenir?*

*E a tal ação civil?*

*Alimentos deferiu?*

*Para o bebê consumir?*


É um momento de dor

Para a família dos dois

O caso é multifator

Não basta dar nome aos bois

*A lógica policial*

*Cartesiana e formal*

*Festeja tudo depois*


*Por isso se faz urgente*

*Conjugar gênero e direito*

*Pois um trabalho decente*

*Que surta algum efeito*

*Não se limita a julgar*

*Mas também a estudar *

*O cerne do preconceito*


*Homens que matam mulheres*

*Em relações de poder*

*Isto tem se dado em série*

*Mas é preciso entender*

*Que subjaz ao evento*

*Um histórico comportamento*

*Que vai construindo o ser*


*A nossa sociedade*

*Apesar da evolução*

*Reproduz iniquidade*

*E também muita opressão*

*Homem que bate em mulher*

*- E “ninguém mete a colher” -*

*Sempre foi uma 'lição'*


*Aprendida por goleiros*

*Delegados, professores*

*Motoristas, marceneiros*

*Pedreiros e promotores*

*Garçons e malabaristas*

*Médicos e taxistas*

*Juízes e adestradores*


Por isto em nossos dias

De conquistas sociais

De novas filosofias

Direitos especiais

*Não podemos aceitar*

*Justiça só pra apurar*

*Crimes tão excepcionais*


Que a Justiça também

Sirva para (se) educar

Chega deste nhém-nhém-nhém

Deste eterno blá-blá-blá

*A Lei Maria da Penha*

*Existe pra que não tenha*

*Tanta morte a lamentar!!!*


*Salete Maria *

*www.cordelirando. blogspot. com*

Fonte: Teresinha Gonçalves pelo email pessoal do grupo de discussão em apoio a VÂNIA GALVÃO 2010.
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